A tão aguardada vacina contra a dengue desenvolvida pelo Instituto Butantan pode ser oficialmente aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda neste mês de novembro. A informação foi confirmada nesta sexta-feira (7), durante coletiva de imprensa em Brasília. Segundo o diretor da agência, Daniel Pereira, a conclusão da análise técnica está prevista para o final da próxima semana.
“A vacina de dengue do Butantan é um processo prioritário para a agência”, afirmou Pereira. Ele destacou que uma recente reunião com o comitê de especialistas foi decisiva para esclarecer dúvidas remanescentes sobre o imunizante.
O produto, que é inteiramente desenvolvido no Brasil, teve seus dados de eficácia publicados no início do ano no New England Journal of Medicine — um dos mais respeitados periódicos científicos do mundo. Segundo o estudo, a vacina protege 79,6% dos imunizados.
A aprovação, caso confirmada, colocará o Brasil entre os poucos países com tecnologia própria para combater a doença, que registra picos anuais de casos e, em muitas regiões, sobrecarrega o sistema de saúde.
Processo de aprovação envolveu avaliação técnica rigorosa
A análise da vacina envolveu “muitas horas” de discussões técnicas com o apoio de especialistas externos, de acordo com Daniel Pereira. Ainda segundo a Anvisa, nenhum outro laboratório apresentou pedido de registro para imunizantes contra a dengue nos últimos meses, o que reforça a expectativa em torno do imunizante do Butantan.
A vacina, que tem aplicação prevista para uso amplo no SUS, representa um avanço estratégico para o país. Atualmente, o Brasil conta apenas com vacinas importadas com restrições de idade ou de aplicação conforme sorologia prévia.

Inteligência artificial pode acelerar registros futuros
Durante o mesmo evento, os diretores da Anvisa apresentaram um plano de modernização para os trâmites regulatórios de medicamentos e produtos biológicos. O presidente da agência, Leandro Safatle, anunciou o uso de ferramentas de inteligência artificial (IA) para agilizar processos de análise. A expectativa é reduzir pela metade o tempo médio atual de avaliação, que pode chegar a até três anos.
“Trata-se de um conjunto de ações que, em conjunto, tende a reduzir os prazos de análise que estão tendo na Anvisa”, explicou Safatle.
Hoje, segundo a agência, há cerca de 1,1 mil medicamentos sintéticos e cerca de 100 produtos biológicos na fila de avaliação. A meta é que, até dezembro de 2026, todos os registros sejam analisados dentro do prazo legal de um ano.
Uma área específica já trabalha internamente no desenvolvimento das soluções baseadas em IA, reforçando o compromisso com mais produtividade e precisão técnica nas análises.
Aporte do Ministério da Saúde impulsiona tecnologia regulatória
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que está na África do Sul participando de reunião com ministros dos países do G20, anunciou por vídeo um investimento de R$ 25 milhões para apoiar a digitalização e automação dos processos da Anvisa.
Segundo Padilha, a medida é estratégica para tornar o Brasil mais atrativo a investimentos no setor farmacêutico e ampliar o acesso da população a medicamentos e vacinas de última geração.
“Acreditamos que isso vai reduzir, dar mais qualidade à análise, reduzir o tempo para os projetos de inovação e, com isso, fazer com que medicamentos novos cheguem mais rápido à nossa população”, disse o ministro.
Ainda como parte das iniciativas, o governo federal pretende criar um comitê de acompanhamento com representantes do setor farmacêutico e de biotecnologia para monitorar e otimizar o plano de aceleração regulatória.
Padilha também revelou que o Brasil firmou parcerias com empresas da África do Sul e da Indonésia para acelerar a produção de uma vacina nacional contra a tuberculose.
anvisa/butantã