A manifestação de jogadores, como Neymar, Gabigol e Lucas Moura, contra os gramados sintéticos no estádios brasileiros reacendeu o debate sobre as consequências que esse tipo de solo pode trazer aos atletas. No texto divulgado pelos atletas em suas redes sociais, é defendido que o material não tem qualidade suficiente para comportar jogos profissionais.
Ao longos dos anos, desde que as gramas sintéticas começaram a ser utilizadas nos estádios, muito se fala sobre o risco de lesões. Não, contudo, há um consenso na área médica quanto à maior incidência de lesões em gramados artificiais quando comparado ao natural.
Em 2023, a revista científica inglesa The Lancet analisou mais de mil estudos sobre o tema para concluir que não há uma correlação entre o sintético para o aumento de lesões. Inclusive, de acordo com a publicação, a incidência de problemas físicos nos campos artificiais é menor quando comparado ao natural – 14% inferior, em média.
“A incidência global de lesões no futebol é menor em relva artificial do que em relva. Com base nestas conclusões, o risco de lesões não pode ser usado como argumento contra a relva artificial quando se considera a superfície de jogo ideal para o futebol”, apontou o estudo. No entanto, isso não significa que os atletas que não estão acostumados ao campo sintético não corram riscos.
“No gramado sintético, o pé dos atletas ficam mais presos junto ao campo. Não há a mesma maleabilidade que em gramados naturais”, explicou, ao Estadão, Luiz Felipe Carvalho, ortopedista que já tratou lesões de Rodrigo Dourado e Ferreirinha. “Nestes casos, o pé fica preso e o corpo ‘roda’ por cima do joelho.” O ideal seria que os clubes treinassem em ambos os tipos de gramado – como é o caso de Botafogo, Palmeiras e Athletico-PR – para que os jogadores se acostumem ao campo.
Mesmo sem comprovação científica, diversos jogadores se colocam contra o sintético, desde antes da manifestação desta terça-feira. Em 2024, por exemplo, o uruguaio Luis Suárez, então atacante do Grêmio, fez um acordo com o clube para não jogar nenhuma partida em gramados artificiais, por medo de prejudicar seu joelho, no qual teve uma série de lesões.
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Agora, Neymar, outro jogador com extenso histórico de lesões, é um dos nomes que puxa o movimento contra os gramados sintéticos. Além dele, compartilharam o texto nomes como Neymar, Gabigol, Lucas Moura, Thiago Silva, Cássio e Philippe Coutinho.
“Preocupante ver o rumo que o futebol brasileiro está tomando. É um absurdo a gente ter que discutir gramado sintético em nossos campos. Objetivamente, com tamanho e representatividade que tem o nosso futebol, isso não deveria nem ser uma opção. A solução para um gramado ruim é fazer um gramado bom, simples assim”, diz o texto.
“Nas ligas mais respeitadas do mundo os jogadores são ouvidos e investimentos são feitos para assegurar a qualidade do gramado nos estádios. Trata-se de oferecer qualidade para quem joga e assiste. Se o Brasil deseja definitivamente estar inserido como protagonista no mercado do futebol mundial, a primeira medida deveria ser exigir qualidade do piso que os atletas jogam e treinam. FUTEBOL PROFISSIONAL NÃO SE JOGA EM GRAMADO SINTÉTICO!”, conclui
Hoje, na Série A do Brasileirão, os estádios que possuem gramado artificial são o Allianz Parque, do Palmeiras, o Nilton Santos, do Botafogo. Há, ainda, a Ligga Arena, do Athletico-PR, que caiu para a segunda divisão. Em breve, a Arena MRV, do Atlético-MG, também terá a implementação do sintético.
AE