Ao menos nove pessoas morreram em um acampamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) no Pará, na noite de sábado (9). Segundo o movimento, um incêndio atingiu o local durante a instalação de internet, provocando uma descarga elétrica e explosão no local.
O MST afirmou neste domingo (10) que uma empresa de internet local, chamada G5 Internet, fazia a instalação do sistema desde as 14h de sábado quando, por volta das 20h, dois trabalhadores tentaram fixar uma antena. O aparelho teria entrado em contato com a rede de alta tensão da cerca do acampamento, provocando uma explosão. Alguns barracos pegaram fogo.
Três pessoas da empresa e seis trabalhadores rurais morreram.
O fogo atingiu o acampamento Terra e Liberdade, onde vivem mais de mil famílias. O local fica em Parauapebas, a mais ou menos cinco quilômetros da terra reivindicada.
Em transmissão a jornalistas na tarde deste domingo, os diretores do MST no Pará Pablo Neri e Beatriz Luz relataram que o movimento requer terras hoje sob posse de uma família da região, os Miranda, cujo patrimônio seria de 60 mil hectares em três municípios da região amazônica.
A ocupação em Parauapebas não é na terra do fazendeiro, mas próxima a ela. Trata-se, segundo o movimento, de um espaço provisório de ocupação.
A briga entre o MST e a família Miranda é histórica na região, sendo algumas vezes mediada pela polícia e pelo Exército e com registro de mortes. O movimento pede que os governos federal e estadual façam uma vistoria na terra.
Entre os locais de disputa em Parauapebas estão as fazendas Santa Maria e Três Marias. Ainda segundo o MST, trata-se de um complexo de “latifúndios improdutivos, de terras griladas”, cujos títulos estariam sob posse de Hitalo Toddy após negociações com a família Miranda.
Durante a entrevista, os dois porta-vozes não levantaram hipótese de incêndio criminoso, mas criticaram a atuação da empresa G5, que estaria despreparada e teria colocado seus funcionários em risco diante da falta de equipamentos de segurança e da jornada exaustiva.
“Não tivemos contato direto com a empresa, que não prestou atenção à tragédia. Ninguém nos procurou”, afirmou Beatriz Luz. A reportagem entrou em contato com a empresa, mas ainda não obteve retorno.
A busca por feridos e mortos ocorreu durante a noite e no escuro, já que a energia elétrica do lugar ficou suspensa. Oito pessoas foram para o hospital vítimas de queimaduras, uma delas segue internada.
Representantes do Movimento Terra em Liberdade, que reivindica a terra no Pará, estiveram em Brasília na semana passada para tentar avançar na discussão de reforma agrária dessa região. O acampamento tem mil famílias e cerca de 2.000 moradores.
Segundo o movimento, não há mais risco no local e o governo federal teria disponibilizado água, ajuda médica e funerária.
Por meio de nota, o governo federal afirmou que, a pedido do presidente Lula (PT), o ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar) e o presidente do Incra, César Aldrighi, irão ao estado para acompanhar o caso de perto.
O mandatário lamentou o acontecimento e escreveu nas redes que o governo trabalha “para avançar na retomada da reforma agrária, com a identificação de terras públicas disponíveis, para, após anos de paralisação, dar oportunidade de trabalho e produção para famílias do campo”.
O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), também lamentou e disse que o governo estadual presta apoio necessário ao município.
Outros políticos se manifestaram. O deputado federal do PC do B Orlando Silva (SP) também prestou condolências.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou ter recebido a notícia com tristeza. “Sintam-se abraçados nesse momento de dor.”
folhapress