“Cada arma é como se tivesse determinada identidade”, é assim que explica o perito criminal Jucelino José de Souza Filho. Ele é um dos 6 peritos que atuam no núcleo de balística da Coordenadoria-Geral de Perícias de Mato Grosso do Sul. O núcleo ganhou reforço no trabalho com a chegada de novos equipamentos, chamados de SIB (Sistema de Identificação Balística) que vieram para ajudar no serviço de análise de projéteis e estojos para que descubram de qual arma aquela munição foi deflagrada e assim correlacionar a outros crimes, possivelmente, cometidos com a mesma arma de fogo.
O trabalho atualmente vem sendo feito de forma integralmente manual com o microcomparador balístico, ou seja, um microscópio onde os objetos são analisados. Agora com as novas máquinas, o projétil e o estojo são escaneados e além de auxiliar na análise, as fotografias serão anexadas a um banco de dados, diferentemente de como vem acontecendo atualmente.
O SIB é composto por três equipamentos, conforme detalhou a perita criminal Rafaela Flores Okuda, chefe do Núcleo de Balística. Um deles escaneia o projétil, outro o estojo e por fim um que faz a correlação entre as imagens adquiridas. “Hoje o trabalho feito é de identificação direta e indireta de arma de fogo. Quando a gente recolhe o projétil e estojo de munição e consegue identificar de que arma que ele saiu. A diferença com o sistema que está sendo implantado em todos os estados da federação é que agora a gente vai conseguir correlacionar esses dados. Com esse Sistema de Identificação a gente vai ter uma padronização na inserção desses dados e vamos ter esse banco de dados, que é o Banco Nacional de Perfis Balísticos, para correlacionar todos os crimes envolvendo arma de fogo”.
“Por exemplo, aconteceu um homicídio aqui em Campo Grande utilizando uma determinada arma de fogo e outro lá em São Paulo, eu consigo interligar esses fatos. Assim como aqui dentro da cidade mesmo. Um crime que aconteceu no Nova lima e outro na Moreninha, por esse material escaneado e colocado no banco de dados conseguimos identificar que partiu da mesma arma”, detalhou.
Para esclarecer, a chefe do núcleo afirma que o trabalho do perito não será substituído e sim facilitado. Os 6 peritos criminais que atuam hoje no núcleo passaram por 15 dias de treinamento para aprender a mexer no equipamento e agora falta o treinamento da Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública) sobre Procedimento Operacional Padrão, sobre tipos de laudos e como vai prosseguir depois.
“É como se fosse um banco de DNA, só que de arma. Todas as armas, projétil, estojo relacionados a crimes a gente vai alimentando o banco de dados”, disse, lembrando ainda que são armas usadas em crimes específicos como de homicídios, novo cangaço, por exemplo.
Como funciona na prática
O perito criminal Jucelino José de Souza Filho explicou como funciona a parte de escaneamento do projétil. Ele é inserido no novo equipamento, que escaneia e faz diversas fotografias. Depois elas são inseridas no sistema onde é feita análise.
“Vemos todo o projétil, verificamos que ele tem várias microranhuras, que identificam o cano de determinada arma, que é diferente de cada arma. Cada arma é como se tivesse determinada identidade”, explicou.
“Faço análise de como está esse projétil. Cada ressalto e cavado. O cano possui raias, que serve para dar precisão ao projétil, pra onde ele vaio atingir. Para dar essa precisão precisa desse raiamento, ele sai girando. Essas raias deformam o projétil e essas deformações que a gente precisa para verificar, por exemplo, se eu tenho uma arma apreendida, eu preciso verificar se aquela arma que disparou esse projétil. Eu pego o projétil questionado e um padrão e através dessas microranhuras que eu verifico se é o mesmo ou não com o microcomparador balístico”, detalhou.
Ele reafirma que o novo equipamento vem para agregar no trabalho da equipe. “Na verdade quando a gente encontra alguma correlação ou até valida ai, a gente nunca pode só afirmar. Por isso tenho que ir no microscópico, que é nosso trabalho habitual. A gente já faz isso no microscópio. Aqui é só um facilitador, além das imagens, que ficam gravadas e alimentam o banco de dados e antes ficavam apenas pra gente”.
Já Breno Dutra de Queiroz, também perito criminal, mostrou como é feita a verificação do estojo de um projétil. “Ele tem algumas características que preciso analisar antes de fazer a inserção no banco de dados como a marca dele, calibre, forma como ele é, percutor, o acionamento dele. Quando vou começar a aquisição de imagens tem algumas coisas que preciso usar como referência, como por exemplo, a marca do ejetor”, explica.
Depois disso, é inserido na máquina que realiza o escaneamento e projeta as imagens no computador, inclusive em 3D para que seja observado as marcas, ranhuras, faz um escaneamento total da superfície do estojo. “A arma que disparar esse projétil deixará as mesmas informações, o mesmo tipo de marca. Então consigo correlacionar um outro estojo que for disparado pela mesma arma, posso dar a sugestão de que seja possivelmente da mesma arma e consigo delimitar os campos que quero tirar a informação. Consigo observar a imagem, inclusive em três dimensões”, afirma.
A análise é feita de todos os detalhes possíveis. “Observamos a marca do ejetor, por exemplo, vai como informação para o banco de dados posteriormente. Se houver uma arma que o estojo analisado tenha a mesma marca eu posso dizer que eles possivelmente são da mesma arma. Todos os projéteis e estojos disparados pela mesma arma terão as mesmas marcas”.
Esse sistema já existe em outras cidades como Brasília, Belo Horizonte, Recife e Fortaleza. O próximo passo é explicado pela chefe do núcleo. No sistema há o trabalho de análise confirmado no microscópio. “Quando a gente clica nas correlações, ele dá um grupo de mais ou menos 20 possíveis correlações e que tem o mesmo grupo de microranhuras e daí temos que analisar qual delas realmente podem ter correlação com a minha peça questionada. Depois da análise, se vi que tem correlação vou para o microscópio e confirmo aquela relação”.
Se for uma peça de outro estado, haverá um protocolo para o envio dessa peça para que possa confirmar no microscópio. “Vai facilitar a investigação, a linha, o caminho do crime, o caminho que aquela arma seguiu e chegar indiretamente ao autor ou grupo de autores”.
Sobre a aquisição do novo equipamento, que custa R$ 3,6 milhões. Rafaela explicou que no pacote anticrime foi normatizado o Banco Nacional de Perfis Balísticos e depois da alteração do Código de Processo Penal foi feito decreto 10.711 que instituiu o Banco Nacional de Perfis Balísticos e a partir disso formalizou a aquisição de equipamentos em todos os estados. “Agora vai padronizar para todos terem acesso a todas as informações”.
gov/ms
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