Cerrado (61% do território de MS) recebe 600 milhões de litros de agrotóxico por ano

Bioma presente em diversos Estado, como Tocantins, Goiás, Maranhão, Piauí, Mato Grosso, Bahia, além do Mato Grosso do Sul, estima-se que o Cerrado – que é considerado também “berço das águas” – receba cerca de 600 milhões de litros de agrotóxicos por ano.

Dados do dossiê “Vivendo em Territórios Contaminados”, da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), elaborado em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), apontam para substâncias proibidas em outros países, usadas livremente no Brasil, como o glifosato ou o metolacloro.

Assessora da Campanha e uma das organizadoras da publicação, Mariana Pontes esclarece que foi feita a revisão de literatura especializada sobre agrotóxicos e as análises laboratoriais.

“Além da contribuição dos conhecimentos tradicionais das comunidades que estão, cotidianamente, enfrentando os impactos dos agrotóxicos que poluem às suas águas e envenenam os seus roçados”, disse.

Somente entre 2019 e o ano passado, mais de 1.800 agrotóxicos tiveram uso liberado no Brasil, sendo que pelo menos metade deles são permitidos na Europa por oferecerem riscos à saúde humana e ao meio ambiente.

Segundo o documento da CPT, esses produtos seguem em uso em solo nacional, combinados com sementes transgênicas e utilizados ostensivamente nas lavouras do país, via pulverização terrestre e aérea.

“Impactando não somente o ar, as plantações, as águas, a terra e a biodiversidade, mas povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais”, expõe.

Além das três substâncias já citadas, o documento da CPT traz os seguintes destaques:

  • Fipronil:
    Também encontrado nas pesquisas, tem como alvos primários o sistema nervoso, a tireoide e o fígado, e foi classificado pela USEPA como um possível carcinógeno humano devido à ocorrência de tumores na tireoide.
    Esse Ingrediente Ativo também está associado a milhares de casos de intoxicação em humanos, incluindo graves, que evoluíram para óbito;
  • O 3º agrotóxico mais detectado:
    Conforme análises foi a atrazina, presente em todos os estados em ao menos um ciclo, à exceção do Mato Grosso. No Maranhão, os níveis de atrazina detectados na comunidade de Cocalinho foram mais de 2 vezes superiores ao valor máximo permitido segundo as normativas brasileiras.
  • Dos oito agrotóxicos identificados:
    E quantificados durante a pesquisa-ação, quatro estão entre os 10 mais comercializados no Brasil em 2021. O glifosato ocupa a primeira posição, sendo seguido do 2,4-D (2a posição), da atrazina (5a posição) e do metolacloro (10a posição).

Soja

Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) revelam que, a área cultivada de soja no Brasil na safra de 2020/21 foi de 38,5 milhões de hectares, dos quais 20 milhões estavam localizados no Cerrado, mais de 50% do toda a soja cultivada nacionalmente.

Lavouras de soja no Cerrado cresceram cerca de 1.440% entre 1985 e 2021, ocupando um total de 10% da sua área, sendo essa a cultura que mais demanda agrotóxicos, já que mais de 63% desse produto vai é voltado para “incrementar” esse plantio.

Lançando olhar só sobre esse recorte, a pesquisa revela que apenas 32% do volume pulverizado atingem de fato suas plantas-alvo; quase metade (49%) vai para o solo e 16% ficam dispersos no ar.

Sendo também uma das regiões mais biodiversas, o Cerrado abriga cerca de 5% da biodiversidade terrestre.

“E essa biodiversidade, toda essa riqueza devido à permanência, ao manejo das paisagens, às lutas que vêm sendo travadas há tantas gerações pelos povos e comunidades tradicionais do Cerrado. O Cerrado existe e resiste hoje devido aos modos de vida, aos saberes tradicionais das comunidades indígenas, quilombolas, geraizeiras, quebradeiras de coco babaçu, raizeiras e várias outras comunidades”, diz Pontes, em entrevista à Agência Brasil. 

Organizações responsáveis destacam que, para além de serem contra agrotóxicos, o protesto também se opõe à transgênicos e demais biotecnologias que trazem risco à vida.

 

 

fonte: cpt

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